Minhas Memórias. Capítulo 01
Meu nome é Cesar Augusto, tenho 71 anos e sete meses bem vividos e resolvi escrever, deixar registrado, antes de ficar totalmente gagá, as minhas memórias.
Tive a ousadia de presidir por quatro mandatos seguidos o @Sinjustiçarj e por duas vezes seguidas a @Fenajude.
Isso aconteceu entre 1993 a 2002.
Mas, a minha vida não se resumiu nesses acontecimentos e por achá-la tão gratificante resolvi dividir com o público em geral.
Peço desculpas desde já por não ser cronologicamente exato, minhas lembranças viajam no tempo e conforme forem surgindo na minha cabeça eu vou narrando aqui.
Espero que se divirtam e tirem algum proveito dessas experiências.
Capítulo 01 - A morte
Eu tinha nove anos de idade.
Lembro que eu ainda dormia em um berço, de frente para o corredor, no apartamento onde morávamos em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, meu pai, minha mãe, meu irmão 3 anos mais velho e eu.
Além do irmão que morava com a gente, tem um outro muito mais velho, 14 anos de diferença. Esse, na época, já era casado e sua esposa esperava o seu primeiro filho, morava em outro bairro do subúrbio do Rio de Janeiro.
Do meu berço eu avistava a porta do quarto do meu pai, a porta do banheiro e no final do corredor a sala de jantar.
O berço ficava bem em frente à porta. Na outra ponta, próximo a janela, ficava a cama do meu irmão.
Meu pai ficou paralítico havia uns dois anos, não tinha firmeza nas pernas e usava muletas, andava com dificuldade.
Antes da doença brincávamos de luta em sua cama, que mais parecia um ringue de box, era divertido, lembro que amava muito o meu pai. Adorava brincar com ele.
As vezes o via da janela do seu quarto vigiando minha volta da escola. Me sentia seguro, amado, um sentimento bom.
Quando adoeceu, automaticamente afastou todos nós do restante da família.
Tornou-se intolerante e começou a beber.
A partir daí, um clima de medo e brigas constantes se estabeleceu em nossa família, sempre que o meu pai bebia a expectativa era a de uma nova briga.
Ele não saía mais de casa, ficava na janela e do segundo andar cumprimentava a todos que passavam pela calçada em frente.
As finanças não iam muito bem e a minha mãe fazia doces, salgados e bolos pra ajudar no custeio da casa.
Eu adorava ficar na cozinha beliscando as coisas que ela fazia. Ela não gostava muito, mas cedia.
Resumindo, meu pai não se locomovia sem as muletas e não aceitava toda àquela situação, minha mãe trabalhava em casa pra ajudar nas despesas.
Naquela manhã, lembro de ter acordado com o barulho da minha mãe saindo pra comprar pão e os ingredientes para o café.
Depois que ela saiu eu debrucei ao pé do berço e surpreso pude ver meu pai atravessar do seu quarto para o banheiro sem as muletas e caminhando com firmeza.
Continuei debruçado, desconfiado, aguardando o meu pai sair do banheiro.
- “ meu pai sem as muletas!!! “- pensei.
Não demorou muito ele saiu, olhou pra mim, deu um leve sorriso e entrou em seu quarto, de novo, sem as muletas.
Deitei e sem entender nada voltei a dormir.
Acordei assustado com os gritos e o choro desesperado da minha mãe, vi o meu irmão correr na direção do quarto dela, mas ela fechou a porta e não o deixou ele entrar.
Pulei do berço e comecei a chorar e a gritar pela minha mãe, o meu irmão fazia coro comigo.
Não faço ideia do tempo que passou até que a minha mãe saiu do quarto e sem nos deixar entrar murmurou com a voz embargada;
- “Seu pai morreu”
Pediu que fôssemos à uma igreja próxima pegar com o padre um pouco de água benta.
Estávamos em 1963. Não importa o dia ou o mês, agora são só lembranças.
Meu irmão e eu corríamos em direção a igreja e de mãos dadas chorávamos de soluçar, na verdade eu não tinha a menor noção do que a morte do meu pai significava, só chorava, acho que estava mais assustado com a reação do meu irmão do que com a morte do meu pai.
É, acho que era isso…. Por hoje está bom!… mas não acabou aqui, logo vou postar os próximos capítulos.
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