Minhas Memórias capítulo 10
Capítulo 10 - Bonsucesso -
(A Descoberta do Sexo)
A casa do meu irmão Mário ficava mais animada a noite quando todos chegavam dos respectivos trabalhos.
O jantar era uma festa, a mesa era farta.
Eu me sentia mais a vontade com a minha mãe presente.
Todas as noites, depois do jantar, eu ia até a casa do meu novo amigo que ficava na esquina da rua, ficávamos conversando, contando histórias.
Foi quando ele me contou o que os marmanjos fizeram com o ele.
Antonio, esse era o nome do meu amigo, o mesmo que foi abordado pelos rapazes na esquina da rua, eu contei aqui no episódio anterior.
Ele contou que os marmanjos abusaram sexualmente dele por varias vezes em troca de coisas como dinheiro, pipas, balas e brinquedos.
No início ele achava divertido, mas depois resolveu não fazer mais aquilo, foi quando os rapazes começaram a ameaça-lo. Diziam que iam contar pra todo o mundo da rua que ele era veado e etc...etc... amedrontavam o menino, ele não sabia como se proteger daquelas ameaças, estava sozinho.
Sempre que ele passava na rua os rapazes sacaneavam ele, empurravam, passavam a mão nas suas partes íntimas e isso não tinha um fim.
Esses rapazes eram amigos do meu irmão Luís.
Eu só conhecia o sexo através de algumas revistinhas de sacanagem, desenhadas a nanquim, que o meu irmão Luis escondia entre as suas coisas.
Eu havia descoberto o esconderijo, pegava escondido pra ler, eu ficava impressionado com os exageros dos desenhos. Kkkk
Quando o Antonio me contou a sua história, eu tentei achar algum sentido naquilo tudo mas não conseguia entender.
O Sexo era um tabu enorme naquela época, 1967/68, principalmente em se tratando de crianças.
As revistas adultas vinha em sacos plásticos com uma grande tarja preta sobre a capa.
Eu não dava muita importância ao tema sexo, fiquei sabendo do assédio que as crianças mais novas sofriam dos rapazes mais velhos nas conversas com o Antonio e mais tarde por outros meninos que conheci através dele.
Surpreendente aquele mundo que até então eu desconhecia.
A conversa com o Antonio foi extremamente importante pra que eu aprendesse como enfrentar aquele novo lugar.
Eu era o tipo da criança babaca, curioso, elétrico, aquilo tudo era totalmente novo pra mim, eu era uma possível presa fácil nas garras dos predadores amigos do meu irmão Luís.
Os marmanjos passaram a me olhar estranho, acho que devido a minha amizade com o Antonio, mas não mexiam comigo, acredito que eles tinham medo do meu irmão mais velho, o Mário.
O Mário se impunha, sabia como proteger sua família. Não tínhamos assunto, mas era o meu irmão mais velho.
O Luís, o outro irmão, chegou a pedir para que eu não ficasse tanto tempo com o Antonio . Ele achava que aquela amizade não era boa pra mim, que os amigos dele estavam comentando sobre o meu relacionamento com o menino, que eu deveria estar fazendo “troca-troca” com o viadinho, esses foram os termos usados.
Uma tarde, estávamos todos sentados na esquina; o meu irmão Luis, os amigos dele e eu ,como sempre, um pouco distante do grupo.
Um dos rapazes, Jackson, levantou, pegou uma bicicleta e me chamou. Pediu que eu sentasse no quadro da bicicleta, ele disse que iria me mostrar alguma coisa, não lembro o que foi.
Meu irmão Luís estava ali, então, não vi nada demais. Sentei no quadro da bicicleta e fui com ele.
Ele me levou até um terreno baldio que ficava na Av Itaoca, perto da fábrica da coca cola.
Ele parou a bicicleta e me ofereceu uma pistola de brinquedo, muito parecida com uma arma de verdade, em troca eu teria que deixar ele fazer sexo comigo.
Lembrei da conversa com o Antônio. Naquele momento eu era a suposta presa “fácil” e ele o predador.
Eu não tive dúvidas, eu não era mais tão “fácil” assim, eu conhecia aquela história, não senti medo, pensei no que o meu irmão, o Mário, faria se eu contasse aquela história pra ele.
Respondi muito tranquilo:
- “não quero a pistola não, quero é que você me leve de volta”
Ele me ameaçou e eu revidei. Eu estava muito seguro, resultado de toda a informação que eu recebi nas conversas com os meus amigos.
- “acho melhor você me levar de volta pra casa ou eu te juro que conto pro Mário o que você está querendo fazer comigo e depois você se entende com ele.” - falei olhando nos olhos dele.
Ele pensou por uns instantes, depois guardou o brinquedo e me deu umas balas, ah, pediu que eu não contasse pra ninguém sobre aquele episódio, disse que era tudo brincadeira, que estava me testando, a pedido do Luís, pra saber qual era a minha.
Ficou o dito pelo não dito, retornamos pra esquina onde estavam todos os outros rapazes. Passei na frente do Luís, com a cabeça baixa, evitei olhar pra ele. Fui sentar, como de costume, um pouco mais distante.
Havia um respeito diferente por parte deles.
Naquela noite sonhei com sexo, acordei assustado, tive a sensação de estar molhado.
Lembram que contei que a minha mãe e o o meu irmão dormiam no mesmo quarto que eu?
Sentei assustado, procurei o molhado no lençol, tudo no maior silêncio pra não acordar minha mãe, graças a Deus foi só um sonho.
Agora, pensem naquele menino sonhando com sexo sem ter a menor noção de como aquilo acontecia.
Claro que por influência do acontecido foi um sonho perturbador, com os rapazes mais velhos fazendo horrores comigo. Aquela foi a primeira experiência sexual da minha vida. Um sonho louco, um pesadelo.
O meu amigo invisível tinha muito trabalho comigo. Era com ele que eu conversava, desabafava, me auto aconselhava.
Depois daquela noite a presença dele na minha adolescência foi constante. Medos, dúvidas, curiosidade, muita vontade de entender o que acontecia comigo. Eu havia mudado, alguma coisa estava diferente em mim.
Voltei a dormir.
Continua… breve novo capítulo
Você sempre valente e corajoso
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