Minhas Memórias capítulo 11

 


 Capítulo 11 - Bonsucesso - Mudanças 


...Nos domingos de sol a rapaziada se reunia à beira do Rio Faria Timbó pra mergulhar e nadar. 

Parece mentira, mas as águas do Timbó ainda guardavam alguma transparência.

Eu nunca mergulhei, mas ficava observando os marmanjos brincarem.

Nossa temporada em Bonsucesso não foi das mais longas, logo veio a notícia de mais uma mudança, mal eu tinha arrumado um amigão e já íamos para um novo destino, parecia que o desconhecido fazia parte da minha sina.

Dessa vez íamos para Nova Iguaçu, morar em um conjunto de casas populares à beira da Rodovia Presidente Dutra, mais exatamente no Km 13, bairro Monte Líbano. 

O meu irmão Mário comprou uma casa nesse conjunto habitacional e nós, minha mãe, meu irmão Luis e eu iríamos juntos.

A casa era bem pequena, tinha uma sala, 2 quartos, uma cozinha e um banheiro. Tinha também uma área livre na frente e nos fundos da casa, para uma possível expansão.

A família do meu irmão iria morar no quarto da frente e a da minha mãe no quarto dos fundos.

As casas eram todas iguais, mudavam as cores. 

Assim que chegamos no bairro, ficamos sabendo de um corpo de um bandido morto pelo esquadrão da morte na beira da estrada, bem próximo a nossa casa. Esse tipo de acontecimento era comum naquela época, 1967/68. 

O bairro era bastante arrumadinho, tudo novo, as casas ficavam nas ruas transversais e na avenida central ficavam os prédios com lojas e um andar de apartamentos.

Eu não lembro de quem era a bicicleta, mas eu vivia andando nela pelo bairro e pela periferia dele, tudo muito exótico.

Nessa mesma periferia existiam umas vendas, tipo quitanda, onde vendiam mantimentos e até carne se não me engano. 

A  casa do meu irmão era a penúltima, próxima a esquina, tínhamos uma boa visão da rodovia Presidente Dutra.

Todos os moradores eram novos na região o que facilitou o início de muitos relacionamentos. Alguns bons e outros muito ruins, amizades mesmo nenhuma.

Alguns meses depois a minha mãe comprou um apartamento na avenida central e nos mudamos pra lá, ficava bem perto da casa do meu irmão.

Mesmo depois da mudança, continuei a ir almoçar na casa dele, minha cunhada preparava pra mim e a essa altura ela e eu já estávamos nos tornando amigos.

Fui matriculado no Ginásio Estadual Monteiro Lobato para cursar o científico, o colégio ficava no centro de Nova Iguaçu e pra chegar lá era preciso pegar um ônibus da empresa Brasinha. Bastante divertido o nome da empresa, na lateral dos ônibus tinha um desenho do diabinho das histórias em quadrinhos.

Era tudo muito diferente do que se vivia na capital. Eu gostei muito de morar e viver por lá.

Em Nova Iguaçu fiz parte do diretório estudantil do meu colégio, me formei no segundo grau, fui escoteiro do ar e conheci a minha primeira namorada, Tucá, uma linda morena,  adventista do sétimo dia, irmã caçula de dois marmanjos, sendo que o mais velho era um militar, sargento paraquedista. Não podia dar certo e não deu.

Ao lado do nosso prédio morava uma família integrante de uma banda chamada “Os Pumas”. O pai era o empresário e os três filhos, Werther, Ivan, Diana e mais um amigo, João, tocavam na banda. 

Eu passava as tardes assistindo aos ensaios da banda e acabei fazendo amizade com eles. Eles me tratavam muito bem, independente da diferença de idades. 

O Werther era o baterista, tinha 18 anos e era de quem eu mais gostava. 

Um dia, provavelmente uma sexta-feira, eles me convidaram pra ir a um baile em um clube da região, eles iriam tocar. 

Eu tinha apenas 16 anos e o juizado de menores na época era extremamente rigoroso, mesmo assim o pai deles, o empresário da banda, assumiu a responsabilidade, falou com a minha mãe e ela deixou que eu fosse. 

Nesse dia, eu ajudei a carregar os instrumentos e me senti parte da banda.

 Enquanto eles tocavam eu me misturei ao povo e dancei até não aguentar mais. Foi a minha primeira balada noturna e a primeira vez que bebi um cuba libre, escondido é claro.

Os rapazes pareciam se divertir comigo e passaram a me chamar sempre que iam tocar em algum lugar.

Teve uma vez que eles foram tocar em uma casa noturna no centro de Nova Iguaçu, chamava-se Canequinho, era uma espécie de boate, tudo muito escuro, com muitas mesas e uma pista no centro em frente ao palco.

No meio do baile as luzes acenderam e o conjunto parou de tocar, era uma fiscalização do juizado de menores em conjunto com a delegacia de repressão a entorpecentes, pediram os documentos dos presentes e me pegaram bebendo um Cuba libre antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo. Que azar o meu. 

O comissário queria me levar, mas o empresário da banda interviu e conseguiu me liberar. 

O Canequinho foi fechado naquela noite e autuado, não sei exatamente a razão da autuação, mas pode ter sido por minha causa fiquei pensando ou talvez não.

Não passou muito tempo e o pessoal da banda mudou do nosso bairro, foram pra um outro conjunto habitacional em Belfort Roxo. Cheguei a visita-los algumas vezes, mas era um pouco longe e a nossa amizade se perdeu.

Minha passagem por Nova Iguaçu não deixou marcas, nem grandes acontecimentos, nem grandes amigos, foi uma contagem de aniversários sem festas, mas não foi ruim.

No final de 1970, mudamos novamente, voltamos para Botafogo, no mesmo apartamento que havíamos morado anteriormente. 

As coisas estavam bastante diferente por lá, o Canecão estava funcionando, as obras do shopping Rio Sul haviam começado, a nossa Rua foi alargada e asfaltada, os casarões da frente derrubados e lojas de automóveis ocupavam o seu lugar, o trânsito também havia mudado, não era mais mão dupla.

Eu também havia mudado, cresci, fiquei mais velho. 

Quatro anos, ou cinco, haviam se passado e o meu foco era prestar o vestibular para a faculdade de jornalismo.

Minha mãe me matriculou no Curso Wakigawa, pra me preparar para o vestibular, ficava em Copacabana, tudo ali era perto, tinha muita condução, eram os famosos amarelinhos, ônibus circulares que serviam a toda a zona sul carioca.

Naquela época minha mãe estava ganhando um pouco melhor, estava trabalhando no MEC, em um departamento responsável pelo ensino superior e secretariando o Acessor Jurídico do órgão.

Eu queria, de qualquer jeito, ser emancipado, descobri que o meu pai havia deixado uma pequena herança para os filhos, mas só poderíamos usufruí-la após a maioridade. Eu queria, porque queria, usar a minha parte pra comprar um carro, o dinheiro não dava pra comprar um carro novo, mas pra que um carro novo?

Minha mãe protelava com a desculpa de que eu era menor, não tinha habilitação, não podia dirigir. Queria que eu tirasse a carteira antes, mas naqueles tempos até pra tirar carteira tinha que ter 18 anos de idade.

Minha prioridade passou a ser a carteira de habilitação, e a minha emancipação é claro, afinal eu queria comprar o meu carro.



Continua… breve mais um capítulo…

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