Minhas Memórias- capítulo 15
Capítulo 15 - O Teatro e a Namorada
O grupo de teatro havia mudado de endereço, transferindo-se para o Instituto Benjamim Constant, em frente ao Iate Clube do Rio de Janeiro (ICRJ). O auditório do Instituto era excelente e o espaço de trabalho bem maior que o anterior.
Depois de dar baixa no exército, continuei com as aulas de interpretação e trabalhando com o grupo de teatro durante o período letivo e nos ensaios. Meu objetivo, porém, era me dedicar à iluminação e à sonoplastia das peças.
Leonardo me aceitou de volta e logo fiz novos amigos, entre eles, uma garota muito especial: Claudia.
Mas, antes de falar sobre ela, preciso contar algo que aconteceu em um dia de ensaio. Eu estava estudando as marcações de iluminação para uma nova peça, “A Farsa do Advogado Pathelin”, que seria encenada no teatro Arthur Azevedo, em Campo Grande, Rio de Janeiro. Eu seria o responsável pela iluminação.
Estava sentado no auditório, com um bloco de anotações e uma caneta no colo, sem perceber que havia outras pessoas por perto. Era um dia de ensaio puxado.
Uma dessas pessoas se aproximou, sentou ao meu lado e perguntou:
— Você é o Salgueiro, não é?
Sem olhar para o sujeito, respondi afirmativamente:
— Sim, sou eu mesmo.
O homem era Epitáfio César, produtor da Norma Bengell, uma atriz muito respeitada no cinema nacional e internacional. Ela havia retornado da França naqueles dias e trouxe na bagagem dois roteiros de filmes que queria produzir no Brasil. Para isso, montou a produtora N.B. Produções.
Epitáfio estava ali a convite de Leonardo para contratar figurantes para um desses filmes, agindo como uma espécie de olheiro. Como eu não o conhecia, achei estranha sua aproximação.
Ele me disse que Leonardo havia comentado sobre meu entusiasmo pela arte dos bastidores e meu suposto talento. Por eu ter os dias livres, poderia ajudá-lo na produção do filme.
Assim, como os trabalhos da N.B. Produções estavam começando, ele me convidou para ser assistente de produção do filme “A Dama do Lotação”, e eu aceitei na hora.
Sim, “A Dama do Lotação” foi estrelado por Sônia Braga e produzido pela Globo Filmes, mas isso aconteceu somente após a desistência de Norma Bengell. Originalmente, o filme pertencia à produtora de Norma, a N.B. Produções.
A produção estava, a princípio, escolhendo as locações para as filmagens. Nossa função era negociar as condições de uso desses locais, conseguir anunciantes e contratar aderecistas para confeccionar os cenários, entre outras tarefas.
Foi uma experiência interessante. Conheci o diretor Neville D’Almeida, vários atores famosos e todo o processo de produção cinematográfica.
Mas o que vou contar aqui foi algo inusitado que aconteceu em uma dessas expedições.
No roteiro, havia a indicação de uma cena em um quarto de motel. Surgiu a possibilidade de filmar no VIPs Motel, em São Conrado, um hotel de luxo, caríssimo e famosíssimo, com uma vista incrível.
Estávamos em uma Kombi: o diretor Neville D’Almeida, o produtor Epitáfio César, o continuísta e eu ao volante. Nenhum de nós conhecia o VIPs por dentro, então fomos até lá para conferir.
Ao pararmos no portão, o recepcionista não hesitou e me entregou a chave de um quarto, como se os quatro fossem passar a tarde em uma orgia.
Ele foi discretíssimo, não perguntou nada nem comentou sobre quatro homens em uma Kombi entrando em um motel em plena tarde de um dia de semana. Simplesmente liberou o quarto, sem conversa.
Quando mostrei a chave para Epitáfio e para o pessoal da produção, a gargalhada foi geral, e o constrangimento enorme. Eu nunca tinha entrado em um motel, era o mais novo na Kombi e não sabia como as coisas funcionavam.
No final, Epitáfio teve que sair do carro e ir até a guarita para falar com o porteiro. Ele esclareceu que estávamos ali para conversar com o gerente sobre a locação para uma filmagem e não para fazer o que ele estava pensando.
Graças a Deus, e à boa conversa de Epitáfio, tudo deu certo. Encontramos o proprietário do motel para tratar das condições da locação.
Nosso trabalho não durou muito, acho que no máximo três semanas e foi totalmente inútil. Muito antes de concluirmos toda a produção, Norma chamou a equipe de alto escalão e anunciou que havia vendido “A Dama do Lotação” para a Globo Filmes. Estávamos todos dispensados, exceto Neville, a nova produtora queria no elenco.
Confesso que fiquei frustrado, mas não posso negar que aprendi bastante com aquela experiência.
Voltando à Claudia
Ela era uma garota moderna, já havia namorado dois atores conhecidos de uma grande emissora de TV, era sexualmente liberada… Enfim, uma boa oportunidade para minha iniciação sexual. Eu ainda era virgem aos 20 anos de idade.
Mas, ao contrário do que eu esperava, não tínhamos vida social, só nos víamos no curso de teatro e na casa de amigos para ensaiar. Não havia espaço para nos aprofundarmos nos mistérios do amor, além de eu ser muito tímido e inexperiente.
Mas, por obra do destino, um dia fomos convidados a passar um fim de semana na fazenda de uma amiga, também aluna do curso.
Ali estava a grande oportunidade de ficarmos a sós e, finalmente, de eu me tornar homem.
Aconteceu na primeira noite. A fazenda era enorme, com muita vegetação, muitos animais e muita paz. A noite era de um silêncio e uma escuridão assustadores.
Tínhamos aproveitado bastante a luz do dia: tomamos banho de cachoeira, jogamos vôlei, nos beijamos muito e curtimos a companhia dos amigos.
Já era tarde quando resolvemos nos recolher. Eu estava ansioso e, ao mesmo tempo, nervoso com o que seria minha primeira experiência sexual.
Foi quando um dos amigos de Claudia se aproximou com um cigarro de maconha e nos ofereceu. Ela, com muita naturalidade, pegou o baseado, deu duas tragadas e, em seguida, passou para mim.
Naquela época eu fumava cigarros, mas nunca havia experimentado maconha ou qualquer outro tipo de droga. Senti medo, mas estávamos em uma fazenda, só com nosso grupo de amigos, sem ninguém para nos reprimir ou julgar. Eu me senti seguro. Não vi por que não dar umas tragadas naquele cigarro proibido, só para saber como era, ou para me exibir para a namorada, sei lá…
Foi o caos! Aceitar fumar aquele maldito cigarro foi a pior coisa que fiz naquela noite.
Depois de fumar, deitamos completamente nus. Estávamos a sós, o quarto era todo nosso. Aquele era um momento muito esperado.
Nos abraçamos, nos beijamos, nos excitamos e, quando chegou o momento... não aconteceu nada. Que decepção.
A maconha me deixou muito “doido”. Eu só fazia rir, gargalhava, chorava de tanto rir.
Claudia entrou na onda e riu também. Rolávamos na cama, não estávamos nem aí para o sexo. O mundo não existia para nós, estávamos os dois pelados, chorando de rir e nos lixando para o resto, até pegarmos no sono. De manhã, fomos acordados com a invasão do quarto por todo o grupo.
Resultado do fim de semana: voltei para casa virgem.
Alguns meses mais tarde, Claudia e eu fomos padrinhos do casamento do meu irmão. Depois da cerimônia, fomos a uma boate comemorar e, lá, terminamos nosso relacionamento.
🌸🌸🌸continua…. Breve mais um capítulo.
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