Minhas Memorias capitulo 12



Capítulo 12 - A Minha Transformação


Minha vida em Botafogo se resumia a acordar, ir à praia, almoçar, ir ao cinema (duas ou três sessões por dia), voltar pra casa, jantar e dormir.

Minha mãe e meu irmão Luís saíam bem cedo pela manhã e, como de costume, eu ficava o resto do dia por minha conta, eu me virava sozinho. 

Ela deixava uns trocados que eu guardava para ir ao cinema, sempre lançavam filmes novos, o cinema era o meu hobby.

A zona sul carioca tinha muitos cinemas, eu conhecia todos eles: 

O Rian, ficava na Av. Atlântica, era o meu preferido. Eu já era apaixonado por aquela avenida a beira mar, o cinema Rian não chegava a ser luxuoso, mas ficava de frente praquele mar lindo de Copacabana.

o Cine Caruso ficava no posto 6, também em Copacabana.

Tinha o Cine Roxy, esse ficava na Rua Bolívar esquina com a avenida N.Sra. de Copacabana. Era conhecido como “Cinerama” que consistia em uma uma super telona de 180 graus, foi lá que assisti ao Exorcista.

Ainda tinha o Ricamar, o Palace, o Bruni, o Metro, o Condor e muitos outros, tudo isso em um raio de aproximadamente 3 km. 

Eu frequentei todas as salas, não havia uma que eu gostasse mais a não ser o Rian, já expliquei a razão, por sua localização.

Minha mãe não sabia, mas eu só frequentei  às aulas do cursinho pré-vestibular no primeiro mês, depois não fui mais e nem paguei as mensalidades, mesmo sabendo da dificuldade dela para conseguir aquele dinheiro.

Eu tinha um outro objetivo, guardar o dinheiro das mensalidades para tirar a carteira de motorista. Eu ainda não tinha a idade exigida, mas minha mãe aceitou, depois de muita insistência minha, me emancipar, só estávamos aguardando os documentos ficarem prontos.

Não frequentando o curso, as manhãs eram todas livres, eu atravessava o Túnel Novo a pé e ia a praia em frente a Avenida Princesa Isabel.

Pra quem não conhece, o Túnel Novo liga o bairro de Botafogo a Copacabana.

Fiz alguns amigos na praia, todos classe média o que os deixava distante da minha realidade.

Estudavam à noite em cursos caros, filhos de engenheiros, advogados, médicos, todos moravam nas imediações das ruas Prado Junior, Viveiros de Castro, em apartamentos enormes e não tinham preocupações com dinheiro. Eram cabeludos, usavam calças jeans, levavam pranchas de surf pra praia, tinham amigos, namoradas, enfim, não sei se aquilo me fazia bem, mas aquele foi o ambiente no qual me jogaram sem que eu pudesse opinar. Eu estava com 17 anos e queria muito me enturmar, ter amigos.

Frequentei a casa de alguns deles. Na sala do apartamento do Cláudio, um desses amigos, cabiam três do meu apartamento, o quarto dele era maior do que o apartamento em que morávamos minha mãe, meu irmão e eu.

Ele sabia que eu era um "pobretão" e, mesmo assim, combinava de sair comigo, ir a matinês de boates e clubes e até mesmo me levava para segurar vela na casa da namorada dele.

Eu não tinha namorada e nem condições de ter. As meninas da zona sul me rejeitavam, eu era muito magro, dentuço e feio, além de desengonçado, cafona e duro. Pelo menos era assim que eu me via. Minhas calças eram todas de tergal colorido e as minhas camisas eram sociais, de mangas compridas, conclusão: o cafona!

O Cláudio me levou pra conhecer alguns clubes bacanas, como o CIB e o Campestre.

O CIB e o Campestre eram dois clubes que promoviam, aos domingos, matinês em suas boates. Começavam às 16h e terminavam às 23h.

O CIB (Clube Israelita Brasileiro), um clube da comunidade judaica, ficava na esquina da Rua Santa Clara, bem perto da casa da minha tia mãe .

O Clube Campestre era um prédio interessante onde você entrava pelo terraço e descia para os andares mais baixos. Esse clube ficava no Alto Gávea. 

Nós íamos e voltávamos caminhando e conversando. Era muito divertido e, na maioria das vezes, o Cláudio é quem pagava as minhas despesas nas matinês e na lanchonete Gordon, onde parávamos antes de voltar pra casa.

Comecei a usar roupas iguais às dos rapazes da zona sul: jeans desbotados, comprados em brechós, tênis e camisetas básicas. A moda era vestir roupas usadas, sei lá, coisas assim. 

Meus cabelos cresceram até os ombros. Eram muito finos e sempre desgranhados em função disso.

Tirando a falta de grana, eu tinha me transformado em um adolescente da zona sul carioca conseguindo me misturar aos hábitos deles.

Tudo muito rápido. 

Comecei a seguir grupos de rock como Os Mutantes, Lulu Santos e outros. Ia aos shows no Pão de Açúcar, nas salas de cinema e nos campos de futebol; esses shows eram comuns naquela época. Claro que isso tinha um custo e quem arcava com esses custos era a minha mãe e, as vezes, os amigos.

Quando minha mãe descobriu que eu não estava indo ao cursinho, o tempo fechou.

Não conversávamos muito, ela não tinha tempo, trabalhava muito, inclusive nos finais de semana quando fazia faxina pra ganhe um extra.

Quando não tinha faxinas, ela ia para a casa do meu irmão mais velho, ver os netos que ela tanto adorava.

Ela ficou muito decepcionada quando soube. 

Minha mãe não era de dar bronca, mas deixou claro a preocupação com o destino do dinheiro do curso. Eu não havia gasto o dinheiro. 

Como já deixei esclarecido, estava juntando para tirar a minha carteira de motorista, assim que os documentos da emancipação ficassem prontos.

Devolvi pra ela depois de explicar amolas minhas intenções.

Ela ficou aliviada ao ver que eu não havia usado o dinheiro do curso em drogas, uma das grandes preocupações dos pais naquela época.

Um dia, lendo o jornal, vi um anúncio de um curso de teatro que iria iniciar no Iate Clube do Rio de Janeiro. De casa até lá, a pé, era coisa de 5 minutos. Fui ver como era, se era só para sócios, quanto custava, quais os horários, enfim, fui me informar.

Não era barato. O curso era ótimo e o Iate Clube era top, frequentado por empresários e socialites. O curso era em três turnos de 3 horas cada, e não era só para sócios do clube; era aberto.

Eu não podia pedir dinheiro pra minha mae, O meu irmão Luís, estava bem financeiramente. Trabalhava como despachante aduaneiro e estava comprando um apartamento pra casar, embora fôssemos totalmente estranhos, não custava pedir a ele pra custear o curso.

Encontrei, por um acaso, o Luís e a noiva em frente ao Canecão. 

Foi ali mesmo que falei do curso, da minha vontade de me inscrever e do valor alto das mensalidades. Expliquei que a mamãe não tinha condições de bancar e, no final, perguntei se ele poderia pagar para mim.

Meu irmão era pão-duro e, no início, chiou bastante, mas a minha futura cunhada, para minha surpresa, tomou o meu partido e o convenceu a me patrocinar.

Fiquei extremamente feliz, primeiro pelo curso, segundo por ter conseguido com a ajuda do meu irmão. Embora distantes, ele ainda era um ídolo pra mim.

Fui correndo contar para minha mãe e, em seguida, fazer a minha matrícula no curso de Teatro Leonardo Alves.

Naquele momento, eu não queria fazer o vestibular; eu queria mesmo era ser ator...



Continua…. Breve mais um capítulo 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

1 - A Presidência

Minhas Memórias. Capítulo 01

Minhas Memórias. Capítulo 02