Minhas Memórias - Capitulo 17
Capítulo 17 - Mudança Radical de Vida
O término do meu namoro com a Claudia acabou interferindo no meu relacionamento com os amigos do teatro.
Ela se desligou do grupo e todos ficaram muito sentidos.
Já o Leonardo Alves não mudou em nada a maneira com a qual me tratava; continuou se mostrando um grande amigo. Assim, continuei cumprindo as minhas tarefas como profissional e como aluno.
As dificuldades no escritório do meu irmão fizeram com que a minha mãe rescindisse o contrato de aluguel do apartamento em Botafogo — contenção de despesas — e mudasse para a casa do filho mais velho em um subúrbio do Rio de Janeiro.
Eu não fiquei nem um pouco satisfeito com aquela decisão. Embora o meu relacionamento com o Mário e com a minha cunhada já tivesse evoluído bastante, eu ainda não me sentia à vontade na casa deles; além do mais, eles moravam longe para burro, Brás de Pina.
Não tinha nada que eu pudesse fazer para mudar aquele quadro. O causador de toda aquela situação, o meu irmão Luís, continuava em lua de mel e as coisas por aqui não andavam nada bem.
Consegui convencer a minha mãe a não rescindir o contrato do aluguel antes do seu vencimento. Faltavam apenas três meses e ela me deixou morando sozinho no apartamento até que o contrato expirasse. Aquela mulher forte e guerreira já começava a demonstrar os sintomas da doença que iria levá-la de nós.
Morar só não foi nenhuma novidade para mim, já que tanto a minha mãe quanto os meus irmãos sempre foram ausentes, sempre estiveram voltados para os seus próprios problemas. A minha impressão, à época, era a de que se eu pusesse os pés na estrada e desaparecesse não traria nenhum transtorno para eles; acho até que ficariam aliviados.
Eu havia guardado algum dinheiro, que ganhei fazendo cobranças para a transportadora e comecei a usá-lo para me manter em Botafogo e para continuar frequentando as noites cariocas, com um pouco mais de economia, é óbvio.
Durante o dia, eu encontrava com a mamãe no escritório do Luiz, que ficava no centro da cidade, tentava acalentá-la e ajudar no possível, mas quanto mais ela se aprofundava nos problemas do meu irmão, mais as coisas pareciam ficar piores.
Numa certa noite, eu dançava em uma boate da zona sul carioca quando uma morena simpática se aproximou de mim, com um lindo sorriso no rosto e um copo de bebida na mão. Cristina era o seu nome e, depois das apresentações, me fez companhia.
Dançamos a noite inteira e, quando já era dia, saímos juntos da boate e seguimos para o meu apartamento.
Era uma mulher madura, devia ter uns 30 anos; eu tinha 21. Contei para ela que eu nunca havia estado com uma mulher. Ela sorriu, me beijou e me ensinou como agradá-la; depois, me confortou.
O estúdio de teatro mudou de endereço novamente, foi para uma sobreloja de um edifício na rua Corrêa Dutra, esquina com a rua do Catete, Rio de Janeiro.
O Leonardo estava comprando o espaço, que consistia em três ou quatro grandes lojas geminadas e integradas entre si, formando uma área suficiente para se construir um pequeno teatro de arena.
Na ocasião ele me pediu um dinheiro emprestado e, como eu tinha algum guardado, não hesitei em emprestá-lo.
Minha mãe adoeceu de vez e ficou acamada numa suíte que o meu irmão mais velho construiu para ela nos fundos da casa de Brás de Pina. Era uma espécie de quarto/sala e banheiro, totalmente independente. Não lembro se tinha uma cozinha; poderia ter, visto que ela gostava de cozinhar.
A ideia era a de que eu fosse morar com ela nesse cômodo, mas isso não estava nos meus planos.
Eu continuei em Botafogo e fazendo as mesmas coisas que sempre havia feito. Ia visitar minha mãe nos fins de semana e às vezes dormia por lá.
A Cristina tinha o costume de aparecer no apartamento de Botafogo às quintas e às sextas-feiras à noite. Ela saía do trabalho por volta das 18:00 horas e seguia direto para lá. Sempre levava alguma coisa gostosa para fazer para o jantar, depois saíamos para a balada.
Ela não tinha o costume de dormir no meu apartamento: tinha dois filhos e precisava dar atenção a eles.
Às vezes ela desaparecia por um tempo; eu não me importava, aproveitava esse tempo para passear com amigos na casa de campo do Leonardo em Petrópolis.
A vida seguia o seu curso naturalmente até que chegou o dia de entregar o apartamento.
Foi o Mário quem cuidou da mudança.
A essa altura, o meu dinheiro já havia acabado. O que restou estava emprestado com o pessoal do teatro e eles ainda não tinham condições de devolver. Nada a fazer, fui morar na casa do meu irmão mais velho ao lado da mamãe.
Eu não lembro exatamente do que aconteceu comigo naqueles dias, na casa do meu irmão, só tenho algumas poucas lembranças daquele cômodo no subúrbio do Rio.
Lá, eu me sentia longe de tudo e dos poucos amigos que ficaram na zona sul; na verdade, eu era um prisioneiro daquela distância louca.
O único elo de ligação entre eu, no subúrbio, e a vida na zona sul carioca, onde tudo acontecia, era um amigo que conheci através da Cristina, de nome Zé Luís.
Ele ia, de carro, me buscar na casa do meu irmão nas noites dos finais de semana e me arrastava para a balada e ainda custeava as minhas despesas.
Ele era um grande e bom amigo.
O Zé conheceu a minha mãe já doente e conheceu também o meu irmão, a esposa e as crianças; todos gostavam dele.
Mas, eu não estava feliz. Eu queria continuar a viver a minha vida do jeito que sempre foi, sem ter que dar satisfações, dividir espaços, sem cobranças e sermões desnecessários.
Eu não estava acostumado com uma vida em família.
Meu sonho era trabalhar, alugar um quarto em uma casa de cômodos na zona sul do Rio, ou talvez um kitinete, e seguir com a minha vida vagabunda e arredia.
Uma tarde, fui ao estúdio de teatro conversar com o Leonardo e o seu produtor sobre o meu desaparecimento repentino. Fui explicar a minha situação de exílio forçado em família e da minha angústia em não poder continuar tocando a sonoplastia e a iluminação do grupo.
Os dois me escutaram por algum tempo e, em seguida, me responderam oferecendo o estúdio para que eu fizesse dele a minha morada durante a semana e por tempo indeterminado.
Eu não pensei muito: agradeci, aceitei imediatamente e me mudei no dia seguinte.
Não havia muita coisa para carregar: uma pequena mala com algumas roupas e nenhum objeto pessoal.
Me pareceu que nem a minha mãe nem o meu irmão se importaram muito com a minha mudança. Não lembro de alguma resistência por parte deles. Pelo contrário, ouvi a minha mãe conversando com o Mário e deixando claro que não se preocupava comigo, pois eu era bastante responsável.
Eu também não me importei. Afinal, eu sempre me virei sozinho mesmo. Eu só não podia imaginar o quão difícil seria a minha vida a partir daquele momento.
Continua… breve mais um capítulo.
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