Minhas Memórias - Capitulo 31

 


 Capítulo 31 - O Marabá


Quando cheguei com a notícia no Marabá, a alegria foi tanta que o povo resolveu fazer uma festa.

A casa era de fato festeira; tudo era motivo e/ou pretexto para convidar os amigos.

As festas eram frequentadas por artistas da TV, cantores, escritores, jornalistas, gays, lésbicas, e até mesmo alguns moradores de rua se aproveitavam da confusão criada, com a presença de tanta gente, para entrar de penetras.

O Gerson era um jornalista conceituado no seu meio.

A Rua Teodoro da Silva ficava engarrafada pelo intenso movimento dos carros dos convidados.

O consumo de bebidas e drogas era comum. Embora Gerson não bebesse, não fumasse e nem usasse qualquer tipo de droga, os convidados tinham total liberdade. O sexo também era protagonista.

Havia uma caixa-d’água na parte superior do terreno, nos fundos da casa. Era um lugar escuro, não havia ponto de luz, e os convidados transavam dentro dela; tínhamos que fazer uma limpeza geral ao fim de cada festa. No dia seguinte, a visão era a de um campo de batalha, com corpos espalhados por todos os cantos.

As despesas das festas eram divididas entre os moradores; eu era o único a não participar da "vaquinha".

Assim que soube que seria empossado no Tribunal, coloquei a moto à venda.

Foi em uma dessas festas que conheci outra Ana; ela cuidou de mim até o dia em que me apresentei para assumir o cargo no Fórum de Nova Friburgo. Foi ela que me levou para conhecer a cidade às vésperas da posse. Namoramos por um tempo.

Nos primeiros anos — não lembro exatamente quanto tempo —, eu saía às segundas-feiras pela manhã de Vila Isabel, ia para a rodoviária pegar um ônibus para Friburgo e só voltava na sexta.

Ana me buscava de carro e me levava à rodoviária. Nas noites de sexta-feira, ela me esperava na rodoviária, me levava para a noite carioca e só depois para casa, no Marabá.

Nos finais de semana íamos à praia, boates. O pai dela tinha um pequeno sítio no caminho de Petrópolis, onde criava porcos, galinhas, tinha uma vaca leiteira, e íamos muito lá também. Foi mais um anjo na minha vida.

Em junho de 85, assumi o meu cargo na vara criminal de Nova Friburgo.

Encontrei uma categoria completamente alheia aos acontecimentos da capital. Eram desorganizados, amadores, não conheciam os seus direitos.

Com o meu jeito inquieto de ser, fui me envolvendo com os problemas deles e procurando meios de solucioná-los e até mesmo responder às muitas dúvidas dos colegas.

Em 1985, os sindicatos de servidores públicos eram proibidos no Brasil.

Mesmo assim, do alto da serra fluminense, comecei a me envolver com a fundação do sindicato dos servidores da justiça do Rio de Janeiro, que, por sua vez, já funcionava precariamente como associação.

Vendo o meu interesse em ajudar o pessoal do interior, um chefe de cartório colocou à minha disposição o seu telefone para que eu pudesse buscar na associação existente a ajuda necessária para nós conectarmos as reivindicações daquela entidade e conhecimento para organizar os servidores locais. O cartório passou a ser o meu escritório improvisado.

Foi a partir daí que criei a delegacia sindical do interior. Não era legalizada devido à proibição constitucional, mas era o elo que ligava os funcionários da região aos colegas da capital.

Fiz um trabalho regional, em paralelo, criando facilidades para negócios junto aos servidores locais, como a inclusão da categoria em um plano habitacional da prefeitura local e descontos em medicamentos em farmácias associadas. Logo fiquei conhecido na cidade e no interior fluminense.

Alguns anos depois, após a Constituição Cidadã autorizar que os servidores públicos se reunissem em sindicatos, fui convidado a participar de uma eleição estadual para preencher o cargo de presidente dos servidores do judiciário estadual.

Era uma chapa azarão: um funcionário do interior, pouco conhecido na capital, concorrendo com colegas do maior colégio eleitoral da categoria! Além disso, o interior não era organizado. A única delegacia sindical era a de Friburgo. Não tínhamos recursos para viajar por todos os fóruns do interior para cooptar votos.

De cara, recusei, mas acabei convencido pelos demais componentes da chapa e lá estava eu, candidato a presidente do recém-criado Sindicato dos Servidores da Justiça do Rio de Janeiro.

Eu não era envolvido com política e políticos; era um idealista. Sentia-me capaz de melhorar as condições salariais e de trabalho da categoria apenas no convencimento, no diálogo. Na verdade, eu era de uma ingenuidade sem par.

O atual presidente do Tribunal era o desembargador Antônio Carlos Amorim. Eu já tinha me encontrado com ele por ocasião da fundação do clube da magistratura de Nova Friburgo, e chegamos a conversar; era um homem de conversa fácil.

Foi com esse espírito ingênuo de realizador que resolvi enfrentar o selvagem mundo irracional da política…

Entrarei em mais detalhes no próximo capítulo.



Continua…. Breve, mais um capítulo.

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