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Minhas Memórias - Capitulo 21

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  Capítulo 21 - O Recomeço A temporada de verão da peça “O Museu de Cera” foi um sucesso. A renda da bilheteria foi suficiente para cobrir os gastos e pagar o elenco da peça. Ganhei um dinheirinho bom, me ajudou bastante nos dias que se seguiram. Depois que a peça saiu de cartaz, eu comecei a acordar bem cedo, às 5:30 da manhã, tomar café na padaria e sair em busca de emprego. Eu não podia ficar morando a vida toda no estúdio e comendo às custas do Leonardo e do Zé Martins.  No período de ensaios, e apresentações da peça, tudo bem mas agora não tinha mais como justificar… Fui à luta. O meu foco eram os bancos; eles empregavam jovens sem experiência e pagavam razoavelmente bem.  Comecei a fazer entrevistas nos diversos bancos da cidade e nas agências de emprego também. Às vezes surgiam uns trabalhos temporários que me ajudavam no sustento enquanto não aparecia nada de efetivo. No fim das tardes eu voltava para o estúdio e ajudava o diretor nas aulas noturnas. Uma forma de ...

Minhas Memórias- Capitulo 20

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  Capítulo 20 - A Noite em que Comemorei o Dia do Meu Aniversário de 23 anos. O enterro da mamãe. Assistir àqueles homens enterrando a minha mãe foi o momento mais desesperador de toda a minha vida. Ali, eu deixei de existir. Qualquer pessoa que se aproximasse e me tomasse pelos braços, estaria se apossando da minha alma, da minha história; naquele momento, eu era um ninguém, eu não existia mais. Foi o Zé Martins, o produtor do grupo de teatro, quem me tirou dali. Eu estava aos prantos, em estado de choque. Foi uma longa viagem até Petrópolis. Era um apartamento pequeno, quarto e sala, divididos por um corredor comprido. No meio do corredor havia um recuo com uma cama de solteiro. Parecia um grande armário embutido, fechado com uma cortina pesada, grossa, de um azul-marinho bem escuro e foi nesse cantinho que eu permaneci por uma, ou talvez duas semanas. O Zé deixou comida na geladeira, orientações com uma secretária e voltou para os seus afazeres no teatro. O grupo teatral estava ...

Minhas Memórias - Capitulo 19

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    Capítulo 19 - A Doutrina e a Dor Para quem pensa que dormir em um estabelecimento comercial é mole, posso garantir que não foi tão simples assim. Morar no estúdio de teatro tinha as suas vantagens, eu estava na zona sul carioca, perto de tudo que de importante acontecia no Rio de Janeiro e também dos poucos amigos que fiz no período em que morei em Botafogo. Mas tinham os inconvenientes, por exemplo: o estúdio patrocinava cursos que iniciavam as 08 horas da manhã e encerravam as 23 horas. Eu tinha que estar acordado, de banho tomado e completamente vestido, todas as manhãs, antes das 07:30 horas.  Sem contar que o pessoal da limpeza chegava bem antes disso. Depois de aberto o estúdio, eu tinha duas opções, ou ficava fazendo aulas ou ia bater pernas na rua.  Eu sempre optava por bater pernas na rua, mas havia outro inconveniente; o prédio fechava às 23:30 horas e se eu chegasse após esse horário ficaria trancado do lado de fora pois, não sei por qual razão, o Leon...

Minhas Memórias - Capitulo 18

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  Capítulo 18 - O Guru O patrão da mamãe devia ter uns 70 anos de idade; era um senhor grisalho, alto, forte, general reformado do Exército, advogado, professor catedrático de português e, além de exercer a advocacia, ele também dava aulas no Colégio Pedro II. Ele se tornou um grande amigo da família e, mesmo depois da aposentadoria da mamãe, eles continuavam a se encontrar. Tinham aqueles que apostavam que eles namoravam. Além de todas as especializações descritas acima, ele tinha um dom muito especial: o poder de curar as pessoas usando as palmas das mãos. Não estou brincando, é sério. Ele não gostava de falar sobre isso; somente os mais próximos sabiam e faziam uso desse dom. É lógico que algumas doenças cirúrgicas, mais graves, estavam fora do seu alcance, mas algumas de suas intervenções tinham resultados espetaculares somente usando as palmas das mãos a uma distância de alguns centímetros do local enfermo. Bem, eu o citei por uma razão: ele também era o guru de uma seita orie...

Minhas Memórias - Capitulo 17

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Capítulo 17 - Mudança Radical de Vida O término do meu namoro com a Claudia acabou interferindo no meu relacionamento com os amigos do teatro.  Ela se desligou do grupo e todos ficaram muito sentidos. Já o Leonardo Alves não mudou em nada a maneira com a qual me tratava; continuou se mostrando um grande amigo. Assim, continuei cumprindo as minhas tarefas como profissional e como aluno. As dificuldades no escritório do meu irmão fizeram com que a minha mãe rescindisse o contrato de aluguel do apartamento em Botafogo — contenção de despesas — e mudasse para a casa do filho mais velho em um subúrbio do Rio de Janeiro. Eu não fiquei nem um pouco satisfeito com aquela decisão. Embora o meu relacionamento com o Mário e com a minha cunhada já tivesse evoluído bastante, eu ainda não me sentia à vontade na casa deles; além do mais, eles moravam longe para burro, Brás de Pina. Não tinha nada que eu pudesse fazer para mudar aquele quadro. O causador de toda aquela situação, o meu irmão Luís, ...

Minhas Memórias - Capítulo 16

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Capítulo 16: - O trabalho e o fim do namoro Lembro de uma passagem que aconteceu logo que nos mudamos, pela segunda vez, para o apartamento de Botafogo, antes mesmo de eu me apresentar para o serviço militar. Foi mais ou menos assim: Minha mãe me acordou bem cedo. Ela costumava sair para o trabalho por volta das 7 horas e meu irmão ia junto.  Não era comum eles me acordarem, mas ela queria que eu assinasse uns documentos. Não explicou do que se tratava, até porque eu não iria entender nada, dado o meu estado de sonolência.  Sem me avisar, ela estava me fazendo sócio em uma empresa de transportes rodoviários, dessas que transportam mercadorias em caminhões para todo o Brasil. Aquelas assinaturas eram para o contrato social, o estatuto e outros documentos necessários para o registro da empresa na Junta Comercial.  Minha mãe nunca me contou essa história; eu fui descobrir muito tempo depois. Mais tarde, eu vou contar como fiquei sabendo disso. Na verdade, a empresa não era m...

Minhas Memórias- capítulo 15

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  Capítulo 15 - O Teatro e a Namorada O grupo de teatro havia mudado de endereço, transferindo-se para o Instituto Benjamim Constant, em frente ao Iate Clube do Rio de Janeiro (ICRJ). O auditório do Instituto era excelente e o espaço de trabalho bem maior que o anterior. Depois de dar baixa no exército, continuei com as aulas de interpretação e trabalhando com o grupo de teatro durante o período letivo e nos ensaios. Meu objetivo, porém, era me dedicar à iluminação e à sonoplastia das peças. Leonardo me aceitou de volta e logo fiz novos amigos, entre eles, uma garota muito especial: Claudia. Mas, antes de falar sobre ela, preciso contar algo que aconteceu em um dia de ensaio. Eu estava estudando as marcações de iluminação para uma nova peça, “A Farsa do Advogado Pathelin”, que seria encenada no teatro Arthur Azevedo, em Campo Grande, Rio de Janeiro. Eu seria o responsável pela iluminação. Estava sentado no auditório, com um bloco de anotações e uma caneta no colo, sem perceber que ...

Minhas Memórias capítulo 14

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  Capítulo 14 - O Carro e o Quartel Meu irmão Mário foi quem concluiu a compra do meu carro, um Gordini IV, de cor grená, ano 1968.  O carro estava em ótimo estado, pertencia a um mecânico, dono de uma oficina em um subúrbio do Rio. Fui até a casa do meu irmão buscar o carro e, de lá até Botafogo, voltei dirigindo o Gordini. Meu irmão Mário veio me seguindo no seu Aero Willys, para ter a certeza de que eu chegaria bem.  Fiquei muito feliz em saber que aquele carrinho, mesmo velho, era meu de verdade. Depois disso, passeei muito com a mamãe.  Íamos comer cachorro-quente no Leme, à noite fazíamos compras no mercado, e aos finais de semana eu a levava para a casa do meu irmão mais velho, para ver os netos que ela amava tanto. Em troca, ela enchia o tanque de gasolina. Era uma sensação de liberdade sem explicação. Eu não podia imaginar que um carro pudesse fazer tanta diferença na vida da gente. Não demorou muito e fui convocado para prestar o serviço militar obrigatório...

Minhas Memórias Capítulo 13

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    Capítulo 13 - O Teatro Eu estava nervoso naquele dia. Tinha que estar, tudo era novo para mim. As pessoas naquela antessala eram estranhas, se vestiam de forma estranha e tinham um jeito estranho. Além disso, elas seriam os meus companheiros e companheiras de curso pelos próximos meses. Um sentimento de arrependimento, por ter feito a inscrição, tomou conta de mim:  - “Será que eu fiz certo em me matricular no curso de teatro? Seria possível eu me adaptar àquele meio?”. Essas perguntas não saíam da minha cabeça. - “Estranho por estranho, eu também era estranho, um perfeito bicho do mato, totalmente perdido na Zona Sul carioca e agora dentro do Iate Clube do Rio de Janeiro ao lado de um monte de gente que parecia vir de outro planeta.” Finalmente, chegou o coordenador do curso. Ele abriu a porta do foyer, onde tinham mesas, cadeiras, estantes, um telefone, uma máquina de escrever e muito papel.  Fez uma pequena entrevista com os alunos e mandou que entrássemos no ...